segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

The long and winding road

O sol estava se pondo.
- Uma pergunta boba: Furou?- disse ele com ar de sorriso.
Antes que ela o replicasse ele acrescentou – quer ajuda?
Ela, da posição em que se encontrava, viu dois pés e, por entre as pernas dele, um carro estacionado a poucos metros do seu. Elevando mais a cabeça viu seu corpo todo e, levantando-se, disse que o telefone não estava funcionando naquela região.
Ele estendeu a mão para cumprimentá-la e ela, para quebrar o gelo de vez, sorrindo, ofereceu-lhe a chave de rodas enquanto falava seu nome.
Alguns instantes se passaram. Ela em pé, de braços cruzados e ele quase ajoelhado conversavam coisas impessoais.
De repente pararam.
Esse homem todo de branco poderia ser médico, dentista ou, na pior das hipóteses, pai-de-santo, pensou sorrindo. Preferiu concluir que era um anjo.
Ele, incomodado com a falta de palavras, perguntou-lhe:
- Você sabia que quando estamos conversando e ficamos em silêncio de repente é porque perto de nós passa um anjo?
Ela surpreendeu-se com a coincidência, mas concordou discretamente com um aceno de cabeça e um universal “rã, rã!”
Terminado o serviço ele devolveu-lhe a ferramenta e ela com sorriso de satisfação e um muito obrigado, agradeceu a gentileza.
-“Brigado o caramba!” Disse sorrindo...
Você paga o café no próximo posto.
Ela aceitou a proposta, pensando em conhecê-lo melhor.
Enquanto entrava no carro ele indagou:
-A que velocidade você dirige?
-Sei lá, cem, cento e vinte.
- Se andar mais que isso... ponho a polícia atrás de você.
Desta vez ele encarou-a sério e disse:
-É que eu não quero te perder de vista!
O sol havia se posto.
Nem imaginavam que naquele dia passariam a noite em claro.
Com o brilho dos faróis, e o brilho dos sorrisos, e o brilho dos olhos, e o brilho das estrelas, os carros seguiam a longa e tortuosa estrada...
Até a próxima parada.

12 comentários:

  1. Alcides!

    Meu Deus, me vi na cena.
    Imagina, no meio do nada, fura o pneu do seu carro. Por mais moderna e independente que possamos parecer, trocar o pneu de um carro, definitivamente não é uma tarefa feminina.
    Sem falar da sensação de ser um estranho... vc não sabe o que pensar.

    "(...) ou, na pior das hipóteses, pai-de-santo, pensou sorrindo."
    Senti um pouco de preconceito nessa frase. Hehehehe

    E que delicia o final, hein.
    Realmente, temos que nos dar a oportunidade. Permitir-nos.
    Seguindo seu exemplo, isso me lembrou uma musica do Paralamas do Sucesso:

    "Saber amar
    Saber deixar alguém te amar"

    Bjo
    =)

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  2. Tatha,

    Também senti um poudo de preconceito, mas quem sabe o que se passa na cabeça de uma pessoa no meio do nada, com um estranho?
    Eu, como narrador, só escrevi o que ela pensou.
    Tem uma música da Adriana Calcanhoto que diz que "toda sexta-feira todo o mundo é baiano junto."

    Quanto a referência que você fez, dos Paralamas, eles completam o que você escreveu em outra música:

    "Cuide bem do seu amor
    Seja quem for"

    Beijos!
    Alcides

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  3. Carol,

    Também achei deliciosa. Parte dela é real.

    Beijos!
    Alcides

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  4. Uau!!!! Como diz minha sobrinha: Tô beje! kkk
    Achei esse texto cinematográfico! Adoro isso! Alcides, valeu e obrigada pela passagem por meu blog.
    Bjs

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  5. Alcides,

    Um texto de fazer brilhar os olhos... Lindo!

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  6. Roseli,

    A vida imita a arte. Ou vice-versa.

    Beijos!
    Alcides

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  7. Flor,

    O brilho dos olhos é uma das partes reais do texto.

    Beijos!
    Alcides

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  8. Do jeito que vc escreve, a gente se sente na cena...seria ele, um anjo? Curiosa! hahahaha! Beijocas!

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  9. Jeyva,

    Essa era o pensamento da personagem. Será que ela descobriu?

    Beijos!
    Alcides

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