Paquera II

Depois de acordar atordoado

E ficar algum tempo calado

Não duvidei do que eu sentia

E do que aquele sonho dizia.

Pensei em lhe telefonar,

Mas o telefone tocou antes.

Era ela com voz assustada

E com um soluço sentido

Dizendo que tinha sonhado

Que eu havia morrido.

Não sei se fui oportunista,

Mas na hora falei do meu sonho,

Porém só falei o começo,

Deixei o resto para depois

Só para deixá-la ansiosa

Se a resposta que deu foi sim.

Marcamos de nos encontrar

Naquele mesmo lugar

Em que meu sonho se desenhara.

Um dia difícil de passar

Porque a ansiedade era tanta.

Até que enfim chegou

A hora tão esperada.

O sonho dela já fora esquecido,

Pois provei que eu não tinha morrido.

Fui então falar do meu,

Da sua resposta e do depois       

Eu vi que seus olhos brilhavam

A cada palavra que eu falava.

Falei da mesa que nos separava

Aí eu ri e ela sorriu

E eu vi a felicidade estampada

Naquele rosto tão bonito

Que ali, na minha frente

Parecia um presente de Deus.

Mas eu não lhe disse a resposta,

Fiz um monte de rodeios

Só para ficar mais um pouco

A olhar aquele olhar

Que parecia que correspondia.

Resolvi então perguntar

Se aquele sonho bonito

Poderia se realizar.

A resposta veio em silêncio

Num gesto que eu não me esqueço:

Nossos dedos se entrelaçando

A mesa parecendo encolher

E aquele beijo molhado,

De olhos fechados

E coração aberto para a alegria

De saírmos de lá de mãos dadas

Namorados, apaixonados

Devoradores de nós dois

Deixando tudo para depois.

Depois minha casa, ou sua casa

Sinceramente não sei,

Não tomamos Red Bull,

Mas naquela noite ganhamos asas.