sábado, 21 de novembro de 2009

Vá, idade

Entrou com passos apressados. Se fosse noite, talvez eu pudesse ouvir o eco de seu salto alto. Mas era manhã, quase primavera.
Ameaçou sentar-se num banco, mudou de idéia, deu mais dois passos e sentou-se logo a frente do meu.
Não notei seu rosto, pois sua blusa preta, saia grafite e sapatos chamavam mais atenção.
Tinha na mão esquerda uma grossa pulseira e no dedo mínimo uma aliança de prata. Na mão direita outra pulseira e um relógio pequeno, talvez para reforçar a teoria paulistana de que o tempo é curto.
De repente começa um ritual:
Espelho... batom... rímel... pó.
Um acerto no decote da blusa.
O cabelo, antes solto, agora estava em forma de rabo-de-cavalo. O que parecia não combinar era o elástico vermelho que formava o tal penteado. Mas quem veria um elástico vermelho, além de mim, sentado num banco imediatamente atrás dela?
Vi seus olhos de relance, num movimento para guardar o espelho na bolsa e pegar os óculos escuros. A mão esquerda deslizava os cabelos atrás da orelha nua.
Olhou no relógio.
Corria para o futuro.
Ficou mais bela sem se importar com o tempo e, enquanto se ajeitava, nem se lembrou que aquele dia era seu aniversário.

PS. O aniversário é invenção do autor.

14 comentários:

  1. Querido Alcides,

    Existe situações em que queremos parar o tempo
    Ficar no momento, vivendo o momento
    Como um instante mágico
    Gravamos no nosso inconsciente
    O olhar daquela garota na rua, o rapaz que fala sozinho
    Ou ate o cão vadio que anda perdido
    Guardamos as cores, os pequenos pormenores
    Fragmentos que vão sendo armazenados em nossa memória
    Porque será que ela ameaçou em sentar no outro banco....
    Porque sentou no banco a tua frente?!?
    Em arquivo do nosso ''eu'', procuramos criar e viver a historia
    Será que era bonita? ou nem isso chamou atenção
    Afinal o sapato de salto alto, a blusa de decote e a saia,
    Era o que lhe dava naquela altura vida
    de onde vem, pra onde vai, porque refez a maquilagem
    Porque parou naquela estação,
    Porque prendeu os cabelos, como querendo ganhar a liberdade
    Para quem se ajeitava, qual era os sonhos que ela sonhava
    Ou os medos que a magoava.
    Afinal ela era simplesmente um ser mais que passava
    Olhava o tempo perdida no tempo
    Talvez tentando segurar com as mãos poderosas
    Ganhando forças pra viver o hoje, pensando em construir o amanhã
    O melhor de certeza estava ainda pra vir
    Naquele momento, naquele lugar, descansando
    Correndo pra o futuro, porque o tempo diz que é tempo de ser feliz
    Todos os dias é o aniversário de um novo tempo
    Ontem morreu, hoje nascemos pra viver o momento de um tempo
    Querido Alcides, hoje é um daqueles dias que me sinto perdida no meu tempo
    Acho que a tristeza faz parte da vida como a alegria, e quando sinto que a tristeza é minha companhia não a mando embora, porque na minha solidão aprendo um novo passo pra o meu melhor amanhã.

    Tua historia esta muito bem contada, como sempre encantas, Garoto, lindo.
    Musica eu não a conhecia, gostei da voz e da letra.
    Mil beijos em teu coração
    Rachel

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  2. Rachel,

    Foi mesmo um instante mágico e como disse, só vi os olhos da moça de relance, quando guardava o espelho, mas tudo ficou registrado.

    Lindas as suas palavras, seu comentário está cheio de poesia.

    Quanto a sua tristeza, se realmente ela te ajuda a construir um amanhã, então não mande-a embora não, faça cócegas nela até ela dar gargalhadas. Assim você também vai sorrir bastante.

    A música é da banda Kid Abelha, grupo que marcou a minha adolescência.

    Depois leia seu e-mail, tem alguma coisa escrita lá.

    Beijos!
    Alcides

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  3. Querido Alcides,
    Recado ja mandado....magia ja feita, entao amanha seremos ricos.hiihiih
    Abre teu email, tens a resposta.
    Mil beijos Pra ti garoto
    Rachel

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  4. Bom dia !

    Obrigada pelo recado, já tudo acertado.

    Linda estoria, parabéns

    Beijinhos otimo final de semana

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  5. Alcides,
    Momentos, que mesmo curtos marcam, pela intensidade e pelo fascinio.
    Lindo como sempre...
    Um beijo
    Lita

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  6. Olá, Alcides...

    A voz de Paula Toler me encanta, e a música foi muito bem escolhida! E o seu mini-conto está muito bem escrito.

    Uma semana de paz!

    Bjs.

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  7. Maravilhoso...era bom que pudessemos parar o tempo.
    Um beijo
    Sonhadora

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  8. Rachel,

    Finalmente ricos!!! rsrs

    Obrigado!

    Beijos!
    Alcides

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  9. Lita,

    Momentos que a memória não apaga.

    Beijos!
    Alcides

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  10. Flor,

    A música revela a nossa pressa urbana, coisa que eu chamo aqui de pressa paulistana.

    Obrigado!

    Beijos!
    Alcides

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  11. Sonhadora,

    É preciso que o tempo passe para que algumas coisas permaneçam.

    Beijos!
    Alcides

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  12. Percebo, pelas palavras, que se trata de um acontecimento que se passou, provavelmente, em um ônibus. Também eu gosto de observar pessoas, tentar imaginar seus pensamentos. Gostei do aniversário.
    Abraços!

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  13. Pensador,

    A cena se passou mesmo dentro de um ônibus, eu estava indo ao oftalmologista, será que enxergo bem? rs.

    Um abraço!
    Alcides

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