sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um amor para Luzia

Queria ser freira.
Desde criança queria ser freira.
Seus pais achavam estranho, pois ninguém da família era religioso. Nem sequer frequentavam igreja. Mesmo assim respeitaram a opção da menina.
Aos dezesseis conheceu um jovem que queria ser padre. Era a companhia perfeita para ela fazer confidências e reclamar das cobranças das garotas da escola.
Enfeitavam a igreja em todas as datas festivas e faziam planos de trabalharem no mesmo lugar.
Com o passar do tempo ela foi ficando confusa quanto ao que sentia. Desta vez foi confidenciar à mãe.
Pressentindo o desassossego da menina, a mãe foi filosófica:
- Filha, a vida é uma só!
Deu-lhe um beijo e saiu.
Certa tarde chovia muito e eles preparavam a igreja para a festa da padroeira.
Estavam sós. Lá fora era só chuva, vento, raios e trovões.
Sua confusão aumentava, sentia um misto de desejo e repulsa. Sentia que não era fraterno. Que não podia ceder.
De repente um beijo aconteceu.
Olharam-se com expressão de culpa.
Ele correu para a sacristia. Ela enfrentou a tempestade.
Ela que queria ser freira. Ela que tinha até nome de santa. Ela que beijara o pé da cruz no dia anterior, agora beijou um homem.
Chegou em casa molhada, trancou-se no quarto e chorou.
No dia seguinte ele não apareceu na igreja. Ela ajoelhou-se e rezou.
Rezou...
Rezou querendo respostas. Queria arrancar de Deus o seu momento de paz.
Mas tudo o que podia ouvir era os primeiros pingos da chuva e os trovões anunciando uma outra tempestade.

4 comentários:

  1. Uma tempestade no coração às vezes ensurdece nossa alma... e até o discernimento torna-se difícil!

    Estou passando prá dizer que tem Meme pra você participar lá no Infinito Particular!

    http://infinitoparticulardalva.blogspot.com/

    Beijos!
    Dalva (Flor)

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  2. A Gata Christie,

    Um sinal, talvez, mas é tão difícil entendê-lo.

    Dalva,

    Uma tempestade no coração é tudo o que não queremos, e às vezes é tudo o que precisamos para nos sentirmos vivos.

    Beijos!
    Alcides

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  3. Vc expôs sentimentos que realmente existem, e nem precisa ser padre ou freira...rs...

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