segunda-feira, 2 de março de 2009

Vontade

Pacifíco-me num oceano revolto.
Revolto-me com o oceano
Num horizonte intocável
Que não me deixa ser eu.
O que me tornei sem querer?
Fortaleza mostrando um ponto frágil.
Ilha virgem silenciosa esperando um naufrágio.
Farol na barra a ver navios.
Estrada asfaltada, iluminada
Que leva ninguém ao nada.
E tudo o que eu queria
Era ser estrada de terra
Pra poder acolher os teus passos.
Ser vento, sem calma, sem asa
Entrando em qualquer fresta
Se fosse fresta da tua casa.
Ser lago sereno contemplando a lua
Ser o sol para te aquecer o frio.
E tudo o que eu queria era ser um rio.
Ser teu vigia em tua rua
Pra toda noite te ver banhar nua.

4 comentários:

  1. "Ser vento, sem calma, sem asa
    Entrando em qualquer fresta
    Se fosse fresta da tua casa."

    Alcides, criaste uma sintonia especial nestes versos! E a escolha de "Esperando Aviões" foi perfeita!

    Beijos e uma ótima quarta-feita prá ti!

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  2. Flor,

    O vento é outro ser misterioso que passa por nós e parece que nem cumprimenta. Às vezes passa apressado, outras, devagar. Mas nós é que somos mal educados e nunca o convidamos para ficar.

    Beijos!
    Alcides

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  3. Alcides, hoje li um texto da Lispector que me lembrou isso que disseste sobre o vento:

    "Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha
    exatamente nos cabelos.

    (...) Isso me acontece tantas vezes que passei
    a me considerar modestamente a escolhida das folhas.
    Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos
    e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante.
    Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os
    objetos a folha seca, (...), morta.
    Jogo-a fora (...) também porque sei que
    novas folhas coincidirão comigo.

    Um dia uma folha me bateu nos cílios.
    Achei Deus de uma grande delicadeza."

    (Clarice Lispector)

    Beijos, querido amigo, e uma sexta-feira especial prá você!

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  4. Bom dia, Flor!

    Eu não conhecia este texto. Achei lindo. Uma crônica em forma de poema.

    Coincidentemente meu novo post continua falando do vento. Só que desta vez ele foi mais cruel.

    Beijos!
    Alcides

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